“O mundo enfrenta uma nova pandemia” ou “o furacão Joffrey causa uma escassez de petróleo nos EUA” causam impacto nos mercados financeiros. Sim, esses eventos estão fora de nosso controle e influenciarão os movimentos do mercado por um período indeterminado. Entretanto, será que eventos incontroláveis como esses são os principais impulsionadores do mercado de ações?
Um especialista no mercado financeiro, que executa modelos financeiros e trabalha em um banco há mais de 30 anos, comprou ontem a ação ABC; outra pessoa que não sabe nada sobre o mercado comprou ontem a ação XYZ porque seu influenciador de comédia favorito a comprou. Considerando que compraram qauntidades parecidas, seu impacto no mercado foi semelhante. Pessoas com diferentes formações e conhecimentos impactam os mercados todos os dias comprando e vendendo ações; é por isso que entender finanças comportamentais é tão importante. Além disso, entender quais comportamentos devem ser evitados e seguidos o beneficiará como investidor no longo prazo.
Comprar na baixa e vender na alta! Ou… o contrário. O timing do mercado pode ser difícil até mesmo para especialistas em finanças. Embora seja tentador vender uma ação em seu ponto mais alto e recomprá-la quando ela atinge um ponto mais baixo, a maioria das pessoas erram e se beneficiariam mais se permanecessem investidas o tempo todo. Vamos usar o S&P 500 como exemplo. Sete dos 10 melhores dias do S&P 500 ocorreram dentro de duas semanas dos 10 piores dias do índice. Se você conseguir cronometrar corretamente um drawdown do S&P 500, quais seriam as chances de você também cronometrar perfeitamente o momento de recomprá-lo? Mais do que isso, quais são as chances de você acertar isso mais de 2 ou 3 vezes? Acredito que ambos podemos concordar que as chances são baixas. Dito isso, o S&P 500 retornou 10,20% ao ano, em média, nos últimos 20 anos. Digamos que você hipoteticamente investiu US$ 10.000 no índice S&P 500 em 2003; hoje, você teria cerca de US$ 67.275 em sua conta. Um valor bastante razoável. Entretanto, se você fez várias negociações no índice S&P 500 durante esses 20 anos e, como resultado, perdeu os 10 melhores dias do índice, seu valor total cairia mais de 55% para US$ 30.150. Não tão bom.
O que nos ajuda a entender o comportamento do mercado e a conter nossa vontade de vender um produto no momento ou preço errados? Além da análise, a compreensão dos vários vieses que podem nos levar a fazer isso. O primeiro a ser mencionado é o viés de aversão à perda, que pode ser explicado pelo fato de sentirmos a dor das perdas com mais intensidade do que o prazer dos ganhos. Normalmente, esse viés faz com que os investidores vendam seus investimentos durante as quedas do mercado para evitar mais perdas. Como aprendemos, na maioria das vezes, o mercado tende a ter seus melhores dias após uma queda. O que os investidores podem fazer para evitar esse viés de aversão à perda? Definir e seguir metas claras deve ser a principal solução para esse problema. Questione-se sobre ser um investidor de curto ou longo prazo, o que você quer comprar com o dinheiro investido ou até mesmo quanto você quer ganhar em um determinado período. Categorizar para que você quer usar esse dinheiro sempre ajuda a entender o objetivo final. Se estiver economizando para a educação universitária de seu filho daqui a 10 ou 15 anos, você tem tempo e pode suportar perdas temporárias.
O comportamento de manada é outro viés comum entre os investidores que vendem suas posições durante a euforia do mercado. Durante momentos de incerteza, como uma pandemia ou uma guerra, as pessoas tendem a vender suas posições, temendo que o mercado entre em pânico e leve muito tempo para se recuperar. Embora, historicamente, os mercados dos EUA tenham demonstrado uma consistência notável na recuperação de quedas (recuperação média de menos de 6 meses), os investidores ainda têm medo e preferem migrar para dinheiro ou outros produtos mais seguros. Para esse viés, o segredo pode ser evitar verificar seu portfólio com muita frequência. Em vez de verificar seu portfólio diariamente ou semanalmente, verifique seus investimentos a cada trimestre, semestre ou ano. Verificar os portfólios com frequência aumentará a ansiedade e alavancará as chances de tomar decisões impulsivas que podem se desviar de sua meta final.
O excesso de confiança e o viés de confirmação são dois fatores que podem levar à perda de retornos. Em primeiro lugar, é importante lembrar que nada é 100% certo; os mercados são imprevisíveis e nada é óbvio demais. O excesso de confiança não é uma boa estratégia. É fundamental pesquisar a situação, discuti-la com várias pessoas e evitar que o viés de confirmação domine sua tomada de decisão. O viés de confirmação só permitirá que você processe informações que se alinhem às suas crenças preexistentes. Embora não haja problema em concordar com vários artigos, é essencial reconhecer e lembrar que os riscos estão sempre associados às suas decisões. Nesse contexto, a diversificação é uma solução adequada. A alocação de ativos e a diversificação informada permitem que você expresse suas opiniões sobre as classes de ativos em que se sente confiante (aumentando a exposição a elas) e, ao mesmo tempo, preste atenção a outras classes de ativos que possam oferecer diferentes fontes de retorno. Ativos não correlacionados, como ações, renda fixa, private equity, dívida privada e commodities, podem ajudá-lo a maximizar o investimento de longo prazo. Quanto maior o nível de diversificação, mais suave será a jornada e menos mudanças serão necessárias ao longo dos anos.
Em conclusão, compreender os fatores psicológicos que influenciam as decisões de investimento é fundamental para o sucesso de longo prazo nos mercados financeiros. Ao reconhecer e atenuar vieses como aversão à perda e comportamento de manada, os investidores podem tomar decisões mais informadas e racionais. Permanecer investido, definir metas claras e manter um portfólio diversificado são estratégias fundamentais para navegar pela volatilidade do mercado e alcançar objetivos financeiros. Lembre-se de que a paciência e a disciplina são suas ferramentas mais poderosas na jornada do investimento.
Fontes
– Bogle, John C. The Little Book of Common-Sense Investing: The Only Way to Guarantee Your Fair Share of Stock Market Returns. John Wiley & Sons, 2017.
-J.P. Morgan Asset Management. “Guide to the Markets.” J.P. Morgan, 2023.
– Odean, Terrance, and Brad M. Barber. The Psychology of Investing. Pearson, 2013.
– Shefrin, Hersh. Beyond Greed and Fear: Understanding Behavioral Finance and the Psychology of Investing. Oxford University Press, 2002.
